Marta Miranda direção artística e voz do projeto OqueStrada
"Sempre gostei de animais e sempre vivi rodeada de vários. Apesar de viverem ao ar livre, eram tratados como companheiros, tanto cães como gatos. Uma das minhas avós, com quem vivi, cozinhava para eles uma vez por semana grandes pitéus. Nesse dia as nossas refeições passavam para 2.º plano, pois ela punha toda a sua dedicação nesse cozinhado. Habituei-me à presença deles, mas nunca mais que isso. Há sete anos, numa aldeia em Portugal, antes de um concerto de OqueStrada, enquanto fazíamos à tarde o teste de som, colocaram ao meu colo uma gatinha de um mês. Ela anichou-se nas minhas pernas, enquanto me contavam que, apesar de tão curta vida, já tinha sobrevivido a vários dramas, um deles foi um rebanho de ovelhas passar por ela e sair ilesa, outro cair da casa mais alta do povoado. Enquanto ouvia, incrédula, a história desta mini-heroína, ela olhava para mim. Trouxe-a comigo para Almada e a minha vida mudou, pois descobri que, na solidão de existirmos e para além da companhia de amigos e pessoas que vamos encontrando p'la vida fora, existem outros seres que nos podem acompanhar de forma extraordinária com uma outra dimensão de comunicação, aquela que nos permite sem palavras descobrir outra forma de companhia. Num mundo de mal-entendidos, de excesso de palavras e de muita solidão, eles oferecem-nos algo precioso e uma certa redenção. Demorei anos a entender/sentir que a evolução futura da História humana está directamente ligada à relação e ao respeito que consigamos desenvolver com os animais. Por isso, a todos aqueles que dedicam parte da sua vida a contribuir para que tal aconteça, fico eternamente grata. Em meu nome e dos OqueStrada, um bem-haja ao Amor Rafeiro."